sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Riots na Inglaterra: efeitos de uma crise no capital - Parte III

Marcelo Justo em texto encontrado no CMI retrata o endurecimento da justiça britânica e a criminalização dos protestos. Mostra, apresentando fatos, que instalou-se uma desproporção entre delitos e castigos. Coloca como exemplo a condenação de três homens a um total de dois anos de prisão sendo que o máximo previsto em lei é de seis messes para o tipo de delido que eles tinham cometido sem levar em consideração que os condenados tinham assumido a responsabilidade pelos seus atos, fato geralmente atenuante. Marcelo diz que Novello Noades, uma magistrada de um bairro do sul de Londres falou: “...que o governo havia passado uma orientação recomendando aos juízes que ditassem penas de prisão para os responsáveis por delitos.”, e realmente a ligação do judiciário com o político e perceptível como traz Marcelo em uma frase de Cameron ao regressar urgentemente de suas férias: “...não deixaria que uma 'falsa concepção' dos direitos humanos obstaculizasse a segurança.” e “'Espero que caia sobre eles todo o peso da lei...'”. Marcelo parafraseia Michael Mansfield, famoso advogado inglês no que ele diz: “'Celebramos o protesto no mundo árabe e condenamos seus governos pelo uso da força. Enquanto isso criminalizamos o protesto aqui. Isso é uma tentativa de intimidação para que as pessoas deixem de se manifestar.”

No CMI também foi publicado um texto da Agência de Notícias Anarquistas (ANA) com o título “Nós não estamos saqueando, o que fazemos é expressar a existência de um problema”, frase pronunciada por um jovem negro encapuzado, que participava dos protestos, em entrevista para o channel 4. Porém a ANA coloca que esta entrevista é uma ilha no meio de tantas entrevistas as quais entram, 'coincidentemente', em consonância com as declarações do primeiro-ministro David Cameron. Neste contexto de utilização da mídia a agência declara: “Enquanto a imprensa entrevista fundamentalmente a proprietários de pequenos comércios ou de carros particulares, a maioria dos locais atacados pertencem a grandes empresas.”. Estas empresas citadas na matéria são, entre elas, uma fábrica da Sony queimada, 25 sedes da Orange e T-Mobile e 20 da Vodafone assaltadas. Na visão da ANA “A imprensa e os políticos tentam a todo custo reforçar sua visão de que tudo se resume a um problema de gangues juvenis, evitando destacar como uma das causas a crise econômica ou a situação social e econômica dos jovens...” e finaliza em seguida dizendo que “Para isso colocam o foco em alguns atos indiscriminados fora de contexto, mas por baixo de toda essa versão subjacente há, claramente, um conflito de classe.”.

Fábio M. Michel da Rede Brasil Atual, em matéria encontrada no CMI, relata que a “Europa teme que acontecimentos de Londres disseminem explosão de violência”. Michel diz que embora o governo negue as manifestações como reflexo da crise econômica a imprensa local já está admitindo a incerteza de grande parte da juventude com relação ao futuro como uma razão dos protestos. Posteriormente aborda, como diz o título de sua matéria, o temor cujo o continente europeu tem que as ondas de violência na Inglaterra se espalhem: “A Irlanda anunciou medidas para fechar as portas para novos imigrantes. Na Itália, ensaiam-se grandes protestos públicos. A França vive o pesadelo de ver repetidas as contundentes manifestações de 2005...”. Deixa transparecer em seu texto que segundo analistas um dos motivos de toda essa situação é o fato de parte da população se sentir “...alijada de apoio público diante de ajudas bilionárias oferecidas a bancos a partir de 2008.” e encerra citando uma entrevista da BBC com o sociólogo Jean-Marc Stébé: “...'os jovens estão pessimistas' com o cenário econômico europeu. 'Eles recebem propostas de trabalhos ruins e salários baixos'...”

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