sábado, 26 de novembro de 2011

Um olhar sobre A Revolução dos Bichos

A Revolução dos Bichos (Edição Ridendo Castigat Mores, 2000, 144 páginas) do autor George Orwel, traz de maneira fictícia as diversas relações que se estabelecem em uma sociedade, sendo a sua obra distribuída em dez capítulos.

Antes de adentrar na crítica sobre A Revolução dos Bichos, acredito ser importante fazer a conexão dos personagens da obra com os personagens do nosso cotidiano comparando o granjeiro Jones e o restante do dito gênero humano com a burguesia e os animais com o proletariado.

Pois bem, Orwel começa sua obra ilustrando uma sociedade de cunho capitalista e as relações as quais dão base para a sua estruturação. Estas relações que se apresentam no bojo de uma sociedade pautada pelo modo de produção capitalista são a de exploração e a de dominação. A primeira acontece pois o granjeiro Jones ao usufruir dos bens de consumo produzidos pela força de trabalho dos animais está retirando deles o que não é seu e sim dos próprios animais fato que dá base a relação de exploração. Já a segunda acontece pois os animais não possuem os meios de produção, no caso a terra, e assim são sujeitados a trabalharem para quem as possui, Jones, com o objetivo de sobreviverem, logo, estabelece-se a relação de dominação por conta de Jones ser dono das terras sendo que o termo dono e dominação tem a mesma origem etimológica.

A ilustração desta sociedade capitalista é perceptível no discurso do personagem Major, um porco respeitado pelos demais animais e que já tinha certa idade, que além de contextualizar a situação na qual viviam contava um sonho que tinha tido sobre uma sociedade justa e fraterna onde os animais não sofreriam mais os abusos causados pelo gênero humano. Em sua contextualização Major descreve a sociedade vigente de maneira que muito se assemelha com a linha de pensamento marxista. Por exemplo, ao falar da certeza de que a revolução acontecerá o autor deixa transparecer no discurso do personagem a influência que Marx teve de Hegel no que diz respeito a dialética. A dialética nos traz uma ideia da existência da contradição em tudo que há a nossa volta e a partir desta leitura Marx desenvolve o pensamento de antagonismo de classes que no capitalismo se refere a burguesia e ao proletariado.

Ao diagnosticar, então, a perspectiva marxista no personagem Major, pode-se considerar que a sociedade com a qual ele sonhou é a comunista. Em relação a isso encontramos a ideia de revolução que, na linha marxista, levará a derrubada da burguesia e a instituição de um comunismo puro.

Para finalizar a parte que fala do Major cito outro ponto de ligação com a teoria marxista, o comunismo primitivo. Este conceito presente na linha de pensamento de Karl Marx é perceptível quando o personagem Major fala sobre uma música a qual ele tem a certeza que já foi cantada “pelos animais de antanho”. O que seria esses animais de antanho senão a raça humana pré-histórica a qual Marx dizia que viviam em um comunismo primitivo?

No segundo capitulo, Orwel ilustra o inicio de uma organização por parte do proletariado, após o falecimento do Major, representado na figura dos animais. Estes começam a fazer reuniões secretas para que pudessem se preparar para a revolução. Ainda no segundo capitulo, devido ao agravamento da situação de fome por causa da crise, algo típico do capitalismo, pela qual passava a Granja de Jones a revolução se encaminha de maneira natural, sem ter sido planejada, com a expulsão do gênero humano e a tomada do poder.

Pelos capítulos três e quatro se desenvolve a organização da granja pós revolução nos moldes comunistas. A organização vinha dando certo apesar de alguns contratempos. Neste momento, desponta na granja dois personagens, Bola-de-Neve e Napoleão. O primeiro era um seguidor convicto dos ensinamentos de Major enquanto o outro no decorrer do capitulo cinco deflagra um golpe expulsando Bola-de-Neve da granja e tomando o poder pela força. A partir daí a democracia instaurada com decisões tomadas em assembleias cai por terra e Napoleão passa a concentrar as decisões em torno de sua pessoa.

No restante do livro vários fatos vão ocorrendo é que demonstram o novo caráter do regime o qual passou a ter características puramente totalitárias fugindo do ideal comunista proposto com a revolução.

Ao chegar no último capitulo, encontra-se uma passagem na qual Napoleão convida granjeiros da região para um jantar com o intuito de se aproximar destes e aprofundar as relações comerciais já estabelecidas a algum tempo. No decorrer da janta a conversa era tão alta devido a ingestão de álcool que os demais animais da granja foram espiar para ver o que estava acontecendo. Os animais não conseguiam destingir quem era porco e quem era ser humano. Isto me leva a pensar que na figura do porco o autor quis representar a sujeira da raça humana.

Tendo em vista a metáfora feita com os personagens, nota-se que o cachorro foi utilizado para representar a força militar que sempre está do lado do poder como força repressiva e coercitiva, e a figura do cavalo representa a parte da população alienada pois o cavalo tem um campo de visão limitado, assim o povo representado por esse personagem tem a característica de acreditar em tudo o que falam para ele. Um exemplo disso é a máxima utilizada pelo personagem Sansão: “Napoleão tem sempre razão.”.

Enfim, está é uma boa obra mas somente para quem tem um minimo de conhecimento sobre o assunto que o autor desenvolve através de metáforas. Por exemplo, para um professor utilizar com os seus educandos no ensino médio deve antes tratar de fatos históricos e ideológicos para prepará-los previamente antes da leitura.

Falando um pouco sobre George Orwel, que na verdade é o pseudônimo de Eric Arthur Blair, é importante ressaltar que ele foi um libertário socialista que lutou na Guerra Civil Espanhola e que, segundo Nélson Jahr Garcia na apresentação do livro, tinha “aversão a toda espécie de autoritarismo, seja ele familiar, comunitário, estatal, capitalista ou comunista.”. Nasceu em Bengala na Índia no ano de 1903 e faleceu na Inglaterra no ano de 1950 devido a tuberculose. Além de A Revolução dos Bichos (1945) escreveu, Na Pior em Paris e Londres (1933), Dias na Brimânia (1934), O Caminho de Wigan (1937), Por que escrevo (1946) e 1984 (1949).

Nenhum comentário:

Postar um comentário