sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Riots na Inglaterra: efeitos de uma crise no capital - Parte II

Na Carta Capital o jornalista Rodrigo Pinto apresenta o assunto como “Marcha à ré na história” e continua “Como nos anos 80 de Thatcher, a periferia recusa-se a pagar a conta”. Ele faz menção ao governo de Margaret Thatcher no início dos anos oitenta, comparando-o com a situação do atual governo de David Cameron. Isto pois, como a trinta anos atrás, a nação inglesa está passando por uma profunda crise onde a taxa de desemprego, principalmente, entre os jovens de 16 a 24 anos, é altíssima , e as “manifestações espontâneas e sem uma clara liderança”, denominadas pelo termo em inglês de riots, estão eclodindo por toda a periferia. O jornalista diz que os conservadores estão usando a crise como desculpa para abolir o Estado de Bem-Estar Social alegando que este falhou na geração de empregos e no combate a pobreza. Com isso, o Estado, de orientação conservadora tanto por parte do primeiro-ministro David Cameron quanto por parte do prefeito de Londres Boris Johnson, na tentativa de controlar a inflação, recorrem aos cortes nos gastos públicos, fato semelhante com o governo de Thatcher. Segundo Rodrigo, esses cortes “...nas bolsas-educação e o fechamento dos Centros da Juventude...” são “...medidas do governo, que incluem reformas no sistema de pensão e cortes nos auxílios-moradia e maternidade...”. O repórter relata que Nina Power, professora do Departamento de humanidades da Universidade de Roehampton, foi a primeira a escrever aos jornais “...criticando a teoria de que os distúrbios eram um assunto de segurança pública e pedindo à imprensa que contextualizasse os fatos.”. Em seguida, conselheiros dos bairros de Londres ao serem entrevistados fizeram pressão ao vivo para que fosse feita uma revisão sobre os cortes que o governo tinha realizado nos gastos sociais. Em contraponto o prefeito Johnson “...sugeriu que a mídia parasse de 'dar ouvidos a justificativas econômicas e sociais'.”. Rodrigo finaliza a reportagem falando sobre as advertências que Eric Pickles, secretário de Comunidades, fez aos seus superiores sobre o impacto das reformas encaminhadas pelo governo: “As medidas fariam mais de 40 mil famílias se tornarem tecnicamente sem-teto, apagando os efeitos da economia de cerca de 270 milhões de libras em benefícios cortados, já que seria necessário retirar as pessoas das ruas.”

Na revista Época o jornalista Rogério Simões dá o título “Reino desunido” e coloca a baixo a seguinte frase “Os saques e incêndios em Londres expõem o fracasso do modelo social britânico, baseado na convivência distanciada entre diferentes culturas”. Em seguida começa o texto abordando a iniciativa do jovem britânico Sam Pepper que, chocado com as cenas de violência, lançou na internet a Operação Xícara de Chá a qual se originou com uma página de Facebook e devido a vários adeptos, cerca de trezentos mil fãs, evolui para um site “...onde todos são convidados a publicar uma foto saboreando a bebida preferida da era vitoriana.”. O repórter traz este fato à tona para ilustrar que os riots não atingiram somente lojas, edifícios, entre outros, mas também a cultura britânica. A dita iniciativa tem por objetivo fortalecer os valores tradicionais os quais segundo o próprio primeiro-ministro David Cameron diz que parte da população deixou de lado tais valores, “...partes da sociedade britânica estão 'não apenas quebradas, mas doentes.'”, afirma o chefe de Estado. Rogério coloca os riots como um abalo no orgulho inglês de ter uma certa diversidade cultural adquirida no período pós segunda guerra mundial com a abertura à imigração sendo que desde a década de setenta o país adota o multiculturalismo prevendo “...o respeito às pessoas e culturas que chegam do exterior, desde que elas não alterem o modo de vida local, baseado na privacidade e modesta interação social.”. O jornalista mostra a informação de que o aumento da imigração e o crescimento econômico andaram juntos de 1992 a 2008, porém “A crise econômica que se arrasta há três anos colocou a taxa de desemprego para jovens até 24 anos em 20%. O governo, de coalizão, fruto de uma era de indefinição política, adotou um plano de austeridade com cortes de 20% nos gastos públicos.”, e assim o Estado acabou perdendo “...a capacidade de oferecer a prosperidade que garantia a jovens pobres, na maioria filhos e netos de imigrantes, um quinhão do sonho britânico.” fazendo ruir o contrato social.

Em texto publicado no CMI a jornalista Naomi Klein aborda o fato como “Os saqueadores do dia contra os saqueadores da noite”. Fala sobre o saque que a elite comete contra a população pelo mundo a fora em plena luz do dia, de maneira escancarada. Ela relembra dois momentos recentes, na história, de saques feitos pelo povo, um em Bagdá apos invasão das tropas estadunidenses e outro na Argentina durante uma profunda crise econômica. A visão que se tinha dos saques em Bagdá era extremamente política, reflexo de inúmeros saques anteriores por parte de Saddam e seus filhos deixando os iraquianos descontentes e no 'direito' de saquear também. Mas os saques ocorreram em uma nação dita democrática, a Argentina. Este país enfrentava uma crise provocada pela expansão do neoliberalismo e a população se dirigiu aos mercados estrangeiros instalados ali para saquearem aquilo que elas não conseguiam mais adquirir e quando o governo quis controlar a situação os manifestantes foram lá e derrubaram o governo. Ela coloca em relação a isto que os ingleses dizem que lá não existem tumultos e “...sim crianças sem lei, que se aproveitam de uma situação, para roubar o que não lhes pertence. E a sociedade britânica, diz-nos Cameron, 'tem ojeriza a esse tipo de gente mal comportada.'”. Resumindo a ideia de Klein, ela nos diz que os saques noturnos cometidos pelo povo acontece em decorrência dos saques diários cometidos pela burguesia.

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